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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Eis o homem

Ouvia-se no auto-falante da praça que o amor era a solução.
A solução contra quê? Me perguntei.
E nesse exato momento o ódio, a ganância, a gula e a preguiça, levantaram seus braços e vozes em sinal de protesto.
Pois, claro, onde se tem amor, se retira ódio.
E eu, como sempre, não sabia o que fazer.
Olhava de um, para outro. O que mudaria com a tal chegada anunciada?
Ficaria a praça mais iluminada?
Seria o vento mais macio?
E quando mal questionei tais mudanças, já veio a teimosia gritando em alto e bom som:
Tudo será diferente, eu garanto!
E a paciência logo interveio pedindo calma, que só vendo poderíamos crer em mudanças, e o que era pra ser, seria.
É, pensei, convincente.
Estaria eu enfim concordando com algo?
E mais uma vez o alto falante soou. Sim, dessa vez era o intelecto.
De ínicio fiquei em dúvida de que lado ele estava, pois dizia que só apreciaríamos o amor, porque tínhamos convivido com o ódio. Deveríamos apreciar o último, pois sem sua presença, não nos importaríamos com a chegada do primeiro. Desfrutaríamos do amor, por ter convivido com o ódio, dizia ele. Não eram, como poderia parecer, inimigos, mas sim, complementares! Tal como a dor, e a saúde; o frio e o quente; a saudade e a onipresença. Que já tinham percebido que não viviam um sem o outro. E ele ia continuar seu discurso, um tanto quanto convincente, quando a preguiça o chamou e convenceu de que daria muito trabalho pensar nisso tudo.
E foi, se aproveitando do momento, que o orgulho, que passara todo o discurso calado, não se conteve e desmentiu tamanha calúnia!
Como se atrevia o intelecto a dividir o brilho do ódio com o amor? Tudo era mérito dele próprio!
E a sinceridade, de um canto, apenas mentiu: verdades são mentiras convictas. O que, admito, me deixou confuso ao perceber que ela e a mentira estavam grudadas. Seriam siamesas?
Continuei a observar esse tumulto que me rodeava. Eram tantas convicções, tantos pontos de defesa, de ataque. Sempre existiria um debate? Não haveria um consenso? Onde estava a satisfação?
O boato que ela fugira já tinha anos, estava mais que na hora dela aparecer de novo, não é mesmo? Talvez não... A curiosidade, por um exemplo, era uma que se aproveitava desses momentos. Sempre dando pitecos do que poderia ser se fosse, do que seria se era... Algo assim.
E então as portas se abriram. E foi nesse exato momento, o que as portas se abriram e o amor entrou, que percebi que nada mudaria ao meu redor. A curiosidade sempre estaria presente, o ódio sempre estaria à espreita, a ganância sempre em posse do auto-falante, o intelecto quase sempre acompanhado da preguiça, os opostos sempre se necessitando, e a satisfação, para sempre perdida.
E foi assim, nesse mesmo exato momento, que tudo se tornou claro para mim; que de dúvida, virei certeza.

3 comentários:

  1. Fantástico Bruna. De verdade. Amei esse texto! *-* Um dos melhores que você já escreveu (na minha opinião uehue). O mais literário, com certeza. Parabéns! Não tenho nem palavra direito pra comentar! aeuhaeuha

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  2. Oi Bruna! Que texto fantásico... fiquei sem palavras aqui... Vc tem um talento incrível menina!

    Queria ter seu contato, se possível... Adoraria trocar idéias com vc...

    Bjos, Marcelle

    Ah, qq coisa meu email é darkness.lee2@hotmail.com

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  3. Fevereiro, tem Carnaval, hahaha!

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